ESCOLA ESTADUAL TRÊS PODERES
TEXTO PARA ANÁLISE EM SALA
Professora: Simonia Paiva
As Cruzadas: suas causas e
consequências
As Cruzadas
levaram novo ímpeto ao comércio. Dezenas de milhares de europeus atravessaram o
continente por terra e mar para arrebatar a Terra Prometida aos muçulmanos.
Necessitavam de provisões durante todo o caminho e os mercadores os
acompanhavam a fim de fornecer-lhes o de que precisassem. Os cruzados que
regressavam de suas jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas
e roupas requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um
mercado para esses produtos. Além disso, registrou-se um acentuado aumento na
população, depois do século X, e esses novos habitantes necessitavam de
mercadorias. Parte dessa população não tinha terras e viu nas Cruzadas uma
oportunidade de melhorar sua posição na vida. Freqüentemente, as guerras
fronteiriças contra os muçulmanos, no Mediterrâneo, e contra as tribos da
Europa oriental eram dignificadas pelo nome de Cruzadas quando, na realidade,
constituíam guerras de pilhagem e por terras. A Igreja envolveu essas expedições
de saque num manto de respeitabilidade, fazendo-as aparecer como se fossem
guerras com o propósito de difundir o Evangelho ou exterminar pagãos, ou ainda
defender a Terra Santa.
Desde os primeiros tempos realizaram-se peregrinações à Terra Santa (houve 34
do século VIII ao X e 117 no século XI). Era sincero o desejo de resgatar a
Terra Santa, e apoiado por muitos que nada ganhavam com isso. Mas a verdadeira
força do movimento religioso e a energia com que foi orientado fundamentavam-se
grandemente nas vantagens que poderiam ser conquistadas por certos grupos.
Primeiro, havia a Igreja. Animada, sem dúvida, por um motivo religioso
honesto. Mas também com o bom senso de reconhecer que se tratava de uma época
de luta e, assim, dela se apoderou a idéia de transportar o furor violento dos
guerreiros a outros países que se poderiam converter ao cristianismo, caso a
vitória lhes sorrisse. A Clermont, na França, no ano de 1095, dirigiu-se
o Papa Urbano II. Num descampado, já que não havia edifício suficientemente grande
para abrigar os que queriam ouvi-lo, exortou os fiéis a se aventurarem numa
Cruzada, nos seguintes termos, segundo o depoimento de Fulcher de Chartres, que
estava presente: “Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem,
impiedosamente, contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem contra os
infiéis... Deixai os que até aqui foram ladrões, tornarem-se soldados. Deixai
aqueles que outrora se bateram contra seus irmãos e parentes, lutarem agora
contra os bárbaros, como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a
baixos salários, receberem agora ~ recompensa eterna...
Segundo, havia a Igreja e o Império Bizantino, com sua capital em Constantinopla, muito próximo ao centro do
poder muçulmano na Ásia. Enquanto a Igreja Romana via nas Cruzadas a
opor:unidade de estender seu poderio, a Igreja Bizantina via nelas o meio de
restringir o avanço muçulmano a seu próprio território.
Terceiro, havia os nobres e cavaleiros que
desejavam os saques, ou estavam endividados, e os filhos mais novos, com
pequena ou nenhuma herança — todos julgavam ver nas Cruzadas uma oportunidade
para adquirir terras e fortuna.
Quarto, havia as cidades italianas de
Veneza, Gênova e Pisa. Veneza foi sempre uma cidade comercial. Qualquer cidade
localizada num arquipélago a isso era obrigada. Se as ruas de uma cidade são
canais, é de esperar que sua população se sinta mais à vontade em um barco que
em terra. É o que se passa com os venezianos. Ainda, Veneza apresenta-a uma
localização ideal para a época, pois o bom comércio era o do Oriente, tendo o
Mediterrâneo como saída. Uma vista d’olhos no tapa será o suficiente para
mostrar por que Veneza e outras cidades italianas se tornaram centros
comerciais tão importantes. O que o mapa não mostra, mas também é verdade, é
que Veneza permaneceu ligada a Constantinopla ao Oriente, depois que a Europa
ocidental se dispersou. Uma vez que Constantinopla, durante muitos anos, foi a
maior cidade na região do Mediterrâneo, essa constituía uma vantagem a mais.
Significava que as especiarias orientais, sedas, musselinas, drogas e tapetes
seriam transportados para a Europa pelos venezianos, que mantinham a rota
interna. E porque foram originariamente cidades comerciais, Veneza, Gênova e
Pisa desejavam privilégios especiais de comércio com as cidades ao longo da
costa da Ásia Menor. Nessas cidades, viviam os odiados muçulmanos, os inimigos
de Cristo. Mas lá isso fazia alguma diferença aos venezianos? Nem por sombra.
As cidades comerciais italianas encaravam as Cruzadas como uma oportunidade de
obter vantagens comerciais.
(HUBERMAN, Leo
História da riqueza do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1983, p. 27-9)
Questões sobre o texto:
1. Como as Cruzadas influíram no comércio?
2. Qual o motivo que, segundo o autor, impeliu
certos grupos de pessoas a participarem das Cruzadas?
3. Além do motivo religioso, o que mais animava a
Igreja a promover as Cruzadas?
4. Com que objetivo os nobres e cavaleiros
participaram das Cruzadas?
5. Como as cidades de Veneza, Gênova e Pisa
encararam as Cruzadas?
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