quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Projeto de Atividades Física - prof. Cassimiro - 3º ano - modelo 1




ATIVIDADES INVESTIGATIVAS EM UMA SEQUÊNCIA DE ENSINO SOBRE ELETRICIDADE



José Cassimiro Silva1, 2, Diego Alves Moura1, Pedro PauloSilva3, Jorge Lucas Soares3, Vanessa Vale Oliveira3, Ana Luiza Araujo Teixeira3, Sara Geremias dos Santos Costa3, Nayara Martins de Souza3, Luiz Gustavo D’Carlos Barbosa4, Orlando Aguiar Junior 4,



1 Escola Estadual Três Poderes, jsilva@ufmg.br, diegao.fisica@hotmail.com

2 Laboratório de Tecnologia da Informação da UFMG, jsilva@ufmg.br,

3 Licenciandos em Física, UFMG, anaaraujoteixeira@gmail.com, saragere@hotmail.com, jorgel.resende@gmail.com,

edsono1@hotmail.com, pedropsilvaf@hotmail.com, vanessavale16@gmail.com

4 Faculdade de Educação da UFMG, luis_dcarlos@hotmail.com, orlando@fae.ufmg.br

 Resumo

Neste trabalho, são relatadas ações e reflexões de equipe de bolsistas e supervisores do PIBID em uma Escola Estadual de referência na região norte de Belo Horizonte, sobre o desenvolvimento de atividades investigativas em uma sequência de ensino de eletricidade. Nas discussões na escola e em reuniões de formação do projeto, o foco tem sido o de diversificar estratégias e formas de mediação do conhecimento físico. Nesse sentido, as atividades de ensino de ciências por investigação traduzem uma nova forma de tratar questões fundamentais no processo de aprendizagem conceitual emFísica. A equipe do projeto vem examinando o potencial desses recursos. As questões colocadas são: propor diferentes combinações de recursos em uma aula de Física; fomentar o uso desses recursos por meio de perguntas e problematizações; identificar as dificuldades de compreensão que as representações podem engendrar para os estudantes e, assim, identificar modos de ação que permitam seu entendimento. Além disso, a construção de uma sequência de ensino amparada em atividades de ensino por investigação revela um grande potencial motivador, amplia a autonomia intelectual dos estudantes envolvidos, melhora o engajamento da turma em atividades de caráter científico e permite sua apropriação de conceitos científicos além das expectativas dos modelos de ensino tradicionais.

Palavras-chave: Atividades Investigativas; Eletricidade; Ensino de Física; Problemas e problematização; Processos de ensino-aprendizagem

1 Introdução

O presente trabalho tem com base a experiência de docentes (supervisores) e bolsistas (estagiários) do PIBID no uso de uma sequência de ensino de eletricidade, abrangendo o estudo de cargas elétricas a circuitos simples em série e em paralelo, passando por um estudo fenomenológico de corrente elétrica, construído como atividades investigativas como parte das estratégias de ensino para turmas de terceiro ano do ensino médio na Escola Estadual Três Poderes em Belo Horizonte, MG.

O Programa Institucional de Iniciação à Docência se encontra presente na escola desde o ano de 2010 contando a área de Física com um professor supervisor titular e um professor supervisor voluntário e cinco bolsistas, licenciandos em Física na Universidade Federal de Minas Gerais. Tanto a Universidade quanto a Escola Estadual Três Poderes se localizam na região denominada Pampulha o que facilitou a aproximação da UFMG com a escola.

Desde a introdução do PIBID na escola e pelo estreito vínculo dos docentes participantes do projeto com o ambiente acadêmico tem havido grande interesse na investigação dos desafios a aprendizagem de Física básica pelos estudantes do ensino médio, em especial em escolas públicas de Belo Horizonte.

A partir do primeiro ano de sua introdução na escola a equipe do PIBID decidiu pelo estudo das condições de ensino e pelas estratégias adotadas pelos docentes de Física parceiros do Programa. Dedicou-se tempo na elaboração e aplicação de sequências de ensino que envolvesse atividades prático-experimentais e atividades extraclasses.

2 Ensino investigativo em Física: questões para reflexão

Nos últimos anos, os supervisores e bolsistas passaram a dedicar maior tempo ao uso de atividades investigativas em sala de aula, entendidas aqui como um experimento ou situação-problema:

Onde o estudante é levado a delinear o problema, transformando-o em um problema suscetível à investigação. Feito isto, ele precisa: 1- planejar o curso de suas ações; 2- escolher os procedimentos e selecionar equipamentos, necessários à realização de um experimento ou de uma observação controlada; 3- registrar dados usando uma estratégia adequada (tal como a confecção de tabelas e gráficos); 4- interpretar os resultados; 5- tirar conclusões e avaliar em que medida a investigação realizada promoveu “respostas” ao problema ou uma nova maneira de compreendê-lo. Durante o desenvolvimento dessas etapas, há ciclos de preparação para as etapas posteriores, dependendo da necessidade de mudanças no planejamento, da reformulação do problema ou de redefinição das técnicas usadas (SÁ, E. F. et al, 2007).

Não é estranho à reflexão pedagógica que a Física fundamental, tal qual apresentada tradicionalmente nas escolas de ensino médio, enfrenta grande dificuldades em sua apreensão/apropriação pelos alunos. Há uma grande distância entre o que é ensinado e a experiência cotidiana. Não é somente este divórcio o fator determinante para a apatia e alienação dos alunos em sala de aula. Não raro, bons professores, se sentem frustrados com a indiferença dos estudantes e reconhecem que certos termos e conceitos científicos são tão abstratos que não conseguem captar a atenção do aluno bem como não conseguem operar mudanças conceituais significativas no aparato cognitivo do discente. Por outro lado, as atividades experimentais de caráter meramente ilustrativo ou cuja função tem como único objetivo confirmar o que já se “sabia” das aulas anteriores (“testar o aprendido”) tão pouco tem se saído melhor. Muitas vezes, apesar de incomum na experiência didática do aluno o laboratório se revela maçante e incompreensível. Como observa Helder Figueiredo e Paula: “Paradoxalmente, a perspectiva empirista - que exalta o papel da experimentação na construção do conhecimento é a que mais empobrece as possibilidades de utilização dos laboratórios no ensino”, pois como este autor argumenta,

não reconhece a grande participação das expectativas iniciais, das hipóteses, e da ‘visão de mundo’ dos sujeitos, no desenvolvimento de um experimento e na construção do conhecimento. Acredita, ingenuamente, que o conhecimento provém da mera observação, e que poderíamos apreender as características dos objetos ‘tal como eles são. (PAULA, 1993)

A nossa ver, o ensino por investigação, apesar do amplo espectro de concepções, nos permite construir atividades interessantes e instigantes que permitem o aluno, a partir de um tempo de “maturação” se apropriar de conceitos e ideias fundamentais em Física. Nestas atividades, o aluno não é mero espectador ou ouvinte, mas agente de seu processo de apropriação do saber. É verdade que “há um longo caminho à percorrer”, como observam Danusa Munford e Maria Emília Lima, pois “permanecem questões de como planejar, ensinar e avaliar os alunos sob uma perspectiva investigativa” (MUNFORD e LIMA, 2007), mas acreditamos que este tem sido o mérito de uma equipe de professores e bolsistas engajados no PIBID. Ademais, relatos de experiências tem representado um enriquecimento no aprendizado desta abordagem de ensino recente no Brasil. O relato aqui apresentado pretende ser um valiosa contribuição para esta experiência.

Aqui vale, para nós, o comentário de Andréia Zompero e Carlos Laburú:

Admitimos que as atividades de investigação permitam promover a aprendizagem dos conteúdos conceituais, e também dos conteúdos procedimentais que envolvem a construção do conhecimento científico. Concordamos que essas atividades, sejam elas de laboratório ou não, são significativamente diferentes das atividades de demonstração e experimentações ilustrativas, realizadas nas aulas de Ciências, por fazerem com que os alunos, quando devidamente engajados, tenham um papel intelectual mais ativo durante as aulas.(ZOMPERO e LABURU, 2011)

3 As formas de abordagem e o desenvolvimento da sequência

Yoav Ben-Dov em seu instigante livro “Convite à Física” faz a seguinte pergunta: “O que nos leva a aceitar um convite?” e emenda “Porque achamos interessante e divertido participar da aventura, ou porque acreditamos que alguma agradável surpresa nos aguarda” (Ben-Dov, 2006). Nosso objetivo foi fazer a nossos alunos do terceiro ano do ensino médio um convite: o de viver uma experiência no aprendizado de Física, que a tornasse relevante e divertida, que colocasse o aluno nos domínios da investigação, da crítica, tornando a dúvida e a inquirição permanente  valiosos instrumentos de apropriação do saber.

Para tanto nossa equipe desenvolveu uma sequência de ensino com foco no no tema eletricidade baseada em um modelo de ensino por investigação. Os membros do PIBID entenderam que uma etapa de diagnóstico era necessária (a que chamamos de pré-teste[1]). O pré-teste foi construído com quatro pequenos textos que envolviam a problematização de fenômenos do cotidiano. Nesta etapa não nos valemos de atividade experimental. Queríamos conhecer quais noções sobre fenômenos elétricos do cotidiano os alunos dispunham. Os estudantes se organizariam em grupos de cinco ou seis. Os grupos formados no pré-teste já se estruturariam para as atividades seguintes. Os alunos tiveram a liberdade de escolher seus parceiros, em geral, por relação de afinidade. A primeira pergunta do pré-teste relacionava-se a fenômenos elétricos observados na natureza e quais os alunos podiam identificar. A segunda perguntava a partir de pequenos relatos sobre eletricidade na vida moderna se o aluno (ou grupo de alunos) podia dizer o que ele achava que era a eletricidade. A terceira pergunta era como a eletricidade chegava até a sua residência a partir de sua origem em uma usina hidrelétrica ou termelétrica e por fim a quarta pergunta partia de uma apresentação da estrutura atômica da matéria, composta por prótons, nêutrons e elétrons e a descrição de algumas de suas propriedades. Pedia-se para o grupo discutir e posteriormente relatar se ele via relação entre o fato de a natureza ser feita de átomos e os fenômenos elétricos observados no cotidiano.

Após o pré-teste a equipe do PIBID se reuniu para avaliar as respostas de 49 relatórios, uma média de seis para as oito turmas onde o teste foi aplicado. Este pré-teste serviu para que a equipe definisse o elenco de atividades que seriam desenvolvidas e o modelo de roteiro para as atividades. Optou-se por um roteiro parcialmente dirigido, isto é, como algumas orientações do que fazer em algumas etapas das atividades, mas com maior grau de liberdade para que os alunos formulassem hipóteses.

A primeira atividade, bem simples, utilizando balões e latas vazias de refrigerante destinava-se a investigação de fenômenos eletrostáticos. Os alunos atritavam um balão em um tecido ou no cabelo e o aproximavam de uma lata de refrigerante de 300 mL. A lata, então, se movia na direção do balão. Os alunos poderiam assim movimentar a latinha por grandes distâncias sobre a mesa ou no chão. Na sequência o grupo de alunos era convidado ao atritar o balão no cabelo ou em tecido a encostá-lo na parede e verificar o que aconteceria. A terceira experiência tratava de atritar ao cabelo ou tecido dois balões presos por barbantes e sem tocá-los (para garantir o isolamento o aluno atritava os balões ao cabelo usando luvas de látex) e posteriormente tentar encostá-los um no outro. Em todas as atividades o grupo de alunos deveria anotar o observado no roteiro. A partir das observações o grupo deveria formular uma hipótese sobre os fenômenos observados. Esta hipótese deveria ser anotada para a discussão por toda a turma na aula seguinte. Durante as atividades os bolsistas do PIBID poderiam auxiliar os alunos na elaboração dos experimentos, mas não poderiam auxiliá-los na construção das hipóteses.

Na aula seguinte os grupos se reuniam em sala com o professor e os bolsistas do PIBID para discutir, com toda turma, as atividades da aula anterior. Em geral, o encontro começava com as impressões dos alunos sobre a atividade e o que mais chamou a atenção, em seguida os alunos eram convidados a descrever no todo ou em parte as atividades e na sequência cada grupo apresentava suas hipóteses para explicar os fenômenos observados. Em geral professores e bolsistas lançavam algum questionamento sobre determinadas conclusões o que levava a algum grau de reelaboração das conclusões ou a novas perguntas por parte dos alunos. Alguns alunos se sentiam tentados a solicitar ao professor que apresentasse “a resposta correta”. Nota-se que para esta atividade, em quase todas as turmas onde foram aplicadas, o background dos alunos era razoável, muito provavelmente pelo conceito de cargas elétricas e atração-repulsão entre as cargas já ter sido trabalhado em aulas de química fundamental. O esforço da equipe era “construir” com os alunos as hipóteses que se aproximassem do conhecimento teórico atual sobre o tema.

Notou-se, já nesta primeira atividade um engamento maior dos alunos quando tomado em relação a uma aula meramente expositiva ou a uma aula de demonstração. Os estudantes se envolveram com as experiências, se sentiram compelidos a levantar argumentos e hipóteses e na aula seguinte defenderam seus pontos de vista à medida que iam sendo questionados.

A atividade seguinte foi dedicada a preparar os alunos na exploração de um multímetro. Os alunos receberam um roteiro que na primeira página descrevia as características do aparelho e orientava seu uso. Também o professor aproveitou para fazer uma rápida exposição sobre o uso adequado do aparelho. Posteriormente, os alunos dedicaram o tempo seguinte a realização de medidas em pilhas, medidas em circuito simples (pilha, fio, lâmpada) e anotação dos resultados  de diferença de potencial, de corrente elétrica e de resistência. Aqui se fez necessário um substancial apoio dos bolsistas do PIBID, pois boa parte dos alunos julgaram particularmente difíceis realizar as medidas. A equipe, professor e bolsistas, optaram por expandir o tempo dedicado as estas atividades exploratórias. A aula seguinte foi dedicada a discutir as dificuldades com as medidas e novamente tentar entender o significado dos valores extraídos do aparelho. Notou-se uma dificuldade especial em lidar com as escalas do multímetro. Um exemplo, era comum usar a escala em microvolt quando se esperava o uso em milivolt, ou ao medir a corrente elétrica colocar o ponteiro na escala de diferença de potencial (V) e não em ampères (A). Esta foi uma etapa do processo de aprendizagem que gerou bastante interesse na equipe e que durante as aulas seguintes ainda retornamos para tirar dúvidas, outros alunos, entretanto, demonstraram grande habilidade prática e manual e se familiarizaram rapidamente com o aparelho. Assim, seguiu-se a próxima aula de socialização, ou “roda de conversas”, como nossa equipe passou a chamá-las, para lidar com as conclusões dos relatórios. Algumas questões, nesta fase, ainda estavam muito abertas, como a compreensão de diferença de potencial e corrente elétrica. Em um diagnóstico pós-aula a equipe entendeu que nesta etapa da sequência as dúvidas em aberto eram perfeitamente esperadas e que poderiam ser sanadas à medida que a sequência de ensino se desenvolvesse.

 A terceira atividade foi a construção de uma pilha de Daniell. Pensada justamente a partir dos problemas levantados na aula anterior. Para tanto foram montados seis kits com dois béqueres, uma placa de cobre, uma placa de zinco, sulfatos de cobre e zinco, cloreto de sódio, tubo de borracha transparente, fios com garras jacaré, algodão, água e um multímetro no modo amperímetro. Este material não foi difícil de conseguir uma vez que estava disponível no laboratório da escola. A atividade foi precedida por um vídeo do Ponto Ciência[2]. O vídeo detalhava a montagem da pilha de Daniell e o uso do multímetro para a medida da corrente elétrica. O roteiro era constituído da descrição da atividade (como fazer) complementada pelo vídeo supracitado, de uma tabela com os potenciais de oxi-redução e um conjunto de perguntas que cada grupo deveria responder sob a natureza da atividade e quais hipóteses poderiam ser levantadas para explicar o observado.

A “roda de conversa” seguinte foi além das nossas expectativas. De certo modo, os alunos estavam bem preparados para lidar com conceitos como “doadores” e “receptores”, a partir das aulas de Química em anos anteriores. Também não difícil para os estudantes, em geral, entender que a “ponte salina” desempenhava o papel de “ligar” o circuito, uma vez, que sem ela, a passagem de corrente não era mensurável. Foi um momento importante para retomar a discussão sobre diferença de potencial e passagem de corrente elétrica e tentar consolidar sua interpretação. A atividade teve diversos atrativos. De certa maneira, a pilha de Daniell chama a atenção pelo uso, às vezes raro para os alunos nesta escola, de experiências que envolvam substâncias químicas, o fato de aparecer uma corrente elétrica (medida pelo amperímetro) quando executada adequadamente.

A quarta atividade experimental foi a construção de um circuito simples com limões, uma placa de zinco (extraída de latinha de refrigerante) e moedas de cobre (R$ 0,05), fio de cobre com seção reta inferior a 0,5 milímetro quadrado e uma lâmpada. Optamos, nesta etapa, por uma lâmpada de LED RGB (brancos, azuis, vermelhos e verdes) de 5 milímetros, com dois terminais, e sujeitos a tensão aproximada de 3 V. A escolha dos LEDS foi devida a facilidade de adquiri-los em pacotes de grande quantidade e baratos, bem como pela facilidade de não necessitar de soquetes para montá-lo no circuito. Um inconveniente trazido pelo LED é que por se tratar de um diodo (diodo emissor de luz) permite que a corrente passe num sentido com muito mais facilidade que outro, o que levava aos alunos a ter “descobrir” a ordem correta de conectar o circuito, além do que levava os alunos a perguntar porque a ordem era importante.

Aqui pudemos observar  uma melhora na habilidade de uso do multímetro, com os alunos conseguindo lidar melhor com as escalas do aparelho e com a forma adequada de montagem para realização das medidas (em série para o amperímetro e em paralelo para o voltímetro). O material utilizado nesta atividade foi adquirido pelos próprios alunos (solicitado em aula anterior), sendo de fácil aquisição, a exceção do multímetro, fornecido pela equipe do PIBID.

Na “roda de conversa” após esta atividade notamos que os alunos já estavam bem inseridos na dinâmica das atividades considerando, eles mesmos, que estavam aprendendo mais Física do que pela forma tradicional. De fato, nesta atividade em particular houve uma intensa discussão do papel do limão, do cobre e do zinco na construção da pilha, alunos sugeriram que o experimento poderia ser realizado com batatas ou maças e foram capazes de perceber que o limão por ser ácido fornecia uma solução eletrolítica, que ocorria oxidação na placa de zinco e redução na placa de cobre (moeda). Julgou-se interessante, continuar a “roda de conversa” na aula posterior antes de prosseguir para a próxima atividade dado o grande interesse dos alunos e à necessidade de avaliar e debater melhor outras questões que foram surgindo após esta atividade. Não nos passou despercebido que alguns alunos neste segundo encontro se prepararam melhor para a discussão consultando sites na Internet ou livros didáticos. Julgamos, entretanto, que o carater investigativo de nossas atividades não se perdia, pois frequentemente a atividade de pesquisa leva o investigador/pesquisador a realizar consultas em literatura especializada para consolidar ou refutar suas hipóteses. Para prevenir a simples resposta automática, nosso grupo simplesmente levantava novas questões e dúvidas quando julgávamos que a resposta parecia uma “receita de bolo” extraído de um site. Isto levantava novas dúvidas, reacendia o debate e nos levava novamente ao caminho para uma construção conjunta e efetiva do conhecimento do tópico abordado.

A atividade que encerrou esta sequência foi a mais longa, tomando três aulas seguidas e uniu o experimento a simulações do PHET[3] (Physics Education Technology). Os alunos deveriam, como sugeridos pelo roteiro, montar primeiro circuitos em série, depois em paralelo utilizando pilhas e LEDS. Na sequência os alunos deveriam fazer o mesmo, mas desta vez utilizando o ambiente virtual do PHET para montagem de circuitos de corrente contínua. Em cada etapa, os alunos deveriam anotar as medidas realizadas (medir o circuito aberto e fechado, com uma ou duas lâmpadas), esboçar o circuito, responder algumas perguntas e formular uma hipótese para os fenômenos observados. Para as simulações utilizamos seis netbooks[4].

A divisão da atividade experimental em três aulas ajudou a resgatar reflexões anteriores e os alunos puderam melhorar suas técnicas no uso dos aparelhos e sua habilidade na montagem e inspeção dos circuitos. Na terceira aula já se sentiam livre para montar, fora do roteiro, circuitos mais elaborados com maior quantidade de pilhas e LEDS.

Nossas “rodas de conversas” tiveram aqui a intenção de fechar um ciclo. Foram necessárias aqui duas aulas. A nosso ver, o nível do debate, mais amadurecido, revelou que muitas questões em aberto nas atividades anteriores tornaram-se mais fáceis de ser respondida pelos próprios alunos. Logicamente, havia respostas que necessitavam de maior polimento, o que deu espaço para mediação e novas interrogações.

A apreciação dos alunos do conjunto de atividades foi muito positiva. Conforme, uma de nossas alunas do terceiro ano à época e atualmente aluna de Física na UFMG e membro de nossa equipe comenta:

No terceiro ano do ensino médio participei de todas as atividades investigativas propostas pelo professor e pelos estagiários do PIBID. Foi uma experiência muito proveitosa, pois nos fez desenvolver um próprio raciocínio lógico sobre o que estava acontecendo em determinado experimento, se algo não ocorria como o esperado, nós tínhamos que estudar o que aconteceu ou até mesmo refazer, e depois relatar todo o ocorrido. É interessante pensar que estas atividades investigativas, em essência, eram iguais as praticadas pelos grandes cientistas em suas épocas. Observar um fenômeno, fazer constatações, anotar os fenômenos, fazer cálculos, e levantar hipóteses. Foi o que fizeram e também o que fizemos. Pudemos ver na prática que os fenômenos estudados posteriormente são facilmente observados no nosso dia a dia, o que é de suma importância no ensino da Física, pois é tida muitas vezes como algo distante da realidade e incompreensível.

4 Avaliação

Consideramos a etapa de avaliação de suma importância. Consideramos deste o início muito importante que a avaliação (pós-teste[5]) refletisse o caráter investigativo das atividades desenvolvidas. Para nosso grupo, entendemos duas etapas de avaliação: (1) as “rodas de conversa” onde pudemos avaliar a qualidade das respostas dos alunos e em que medida as hipóteses esboçadas refletiam uma apropriação amadurecida de novos conceitos e ideias fundamentais em Física e (2) um teste em dupla semelhante às atividades investigativas desenvolvidas. Neste teste o aluno era posto diante de situações problemas (como construir um circuito elétrico simples, em série e paralelo e realizar medidas e discutir com seu parceiro os resultados e novamente ser confrontado com a formulação de hipóteses). Constatamos um bom engajamento dos alunos e em nosso entender uma apropriação adequada de conceitos científicos abarcados pelos experimentos. Entretanto, ainda assim, notamos que um pequeno grupo de alunos que ainda não havia se apropriado como esperávamos dos conceitos que julgávamos fundamentais.

Em nosso relatório final de avaliação da atividade constatamos que os alunos se saíram melhor do que em atividades tradicionais fossem elas aulas expositivas seguidas de exercícios e provas, fossem atividades de laboratório tradicionais. A equipe do PIBID baseou-se em relatório prévios de atividades anteriores e dos resultados das provas do semestre anterior para chegar a esta conclusão, ainda que preliminar.

5 Conclusão

Para nosso grupo a atividades de ensino por investigação, embora o conceito seja carregado de certa polissemia (ZOMPERO e LABIRU, 2011) se traduz como uma experiência enriquecedora na vida do aluno. A sequência desenvolvida na Escola Três Poderes demandou de nosso grupo muito engajamento, várias horas de preparação, reuniões semanais (às vezes mais de uma) para avaliar as atividades desenvolvidas, rigor no diagnóstico e um espírito permanente de investigação por parte dos professores e bolsistas do PIBID. Para os alunos o ganho é imenso: contribui para sua autonomia intelectual, produz um engajamento nas atividades, incomum em atividades tradicionais, desperta para o “fazer” científico e possibilita ao aluno se apropriar de forma participante de conceitos fundamentais da Física que de outra forma pareceriam por demais abstratos e desconectados da realidade.

A um imenso espaço para atividades investigativas, bem como muito espaço para a pesquisa de sua abrangência no ensino de ciências, do qual o nosso relato quer ser uma pequena contribuição.

6 Referências

BEN-DOV, Y.  Convite à física.  Rio de Janeiro, Zahar Editor, 1996

MUNFORD, D e LIMA, M. E. C. C., Ensino de ciências por investigação: em que estamos de acordo?, Revista Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 9, n. 01, 2007;

PAULA, H. F. . Dos experimentos às experiências: o laboratório no ensino de ciências, Jornal do CAPE - SMED - Prefeitura de Belo Horizonte, belo horizonte, 1993.

SÁ, E. F. de et al., As características das atividades investigativas segundo tutores e coordenadores de um curso especialização em ensino de ciências. In: VI Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, Florianópolis. Anais do VI ENPEC, Florianópolis: ABRAPEC, 2007
ZOMPERO, A. F, LABURU, C. E, Atividades investigativas no ensino de ciências: aspectos históricos e diferentes abordagens, Revista Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências,


[1]             O modelo do pré-teste pode ser acessado em http://www.icex.ufmg.br/lti/PIDIB/pretesteeletric.pdf.
[2]     O Ponto Ciência é uma inciativa que teve início no Colégio Técnico da UFMG para a criação de um comunidade virtual de professores, alunos e entusiastas de ciências para compartilhar atividades experimentais e projetos de baixo custo. As atividades são transformadas em vídeos e roteiros que podem ser compartilhados e reproduzidos livremente. O vídeo pode ser acessado no canal do Ponto Ciência no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8Qxu__Pq8Ms.
[3]     O PHET (Physics Education Technology) é uma plataforma aberta (opensource) de simulação de experimentos científicos idealizadas pelo ganhador do Prêmio Nobel Carl Wieman e mantida pela Universidade do Colorado em Boulder. A simulação adotada para esta atividade corresponde à montagem de circuitos de corrente contínua no ambiente virtual (https://phet.colorado.edu/en/simulation/legacy/circuit-construction-kit-dc).
[4]     Estes notebooks  foram gentilmente cedidos pelo Laboratório de Tecnologia da Informação do Instituto de Ciências Exatas da UFMG que muito tem colaborado com o PIBID.
[5]             O modelo do pós-teste pode ser acessado em http://www.icex.ufmg.br/lti/PIDIB/postesteeletric.pdf

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